Tavares Bastos, como também ocorreria com Joaquim Nabuco, representou para o pensamento de esquerda sobre o Brasil aquilo que Adam Smith representou para Karl Marx no campo da economia política. Mesmo sendo liberal livre-cambista extremado, do tipo que criticava até a necessidade de os pilotos de navios precisarem de autorização do Estado para o exercício de sua profissão, o autor alagoano foi capaz de compreender uma série de dimensões do capitalismo nacional no terceiro quarto do século XIX. Um indivíduo que expressou a consciência possível da sua formação social numa conjuntura histórica em que o marxismo ainda não existia no Brasil e, mesmo na Europa, era conhecido por um pequeno grupo de intelectuais e militantes operários. O liberalismo do autor não o impediu de se lançar de maneira radical à compreensão da realidade e essa atitude lhe permitiu compreender corretamente uma série de nexos causais, como a relação entre colonização portuguesa e o tipo de capitalismo vigente no país. A rigor, o autor foi o primeiro analista a relacionar os males nacionais à natureza do Estado português e ao tipo de relação econômica entre Portugal e sua colônia ocidental. Como se percebe, essa ideia também está na base das argumentações de Joaquim Nabuco (a escravidão como instituição constitutiva do país) e Caio Prado Jr. (o sentido da colonização), que, por sua vez, inspiram a tradição marxista de interpretação do Brasil.
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